" A maneira como cada um de nós ensina está diretamente dependente daquilo que somos como pessoa quando exercemos o ensino." Nóvoa,1992 O aluno ideal ,que todo professor gostaria de ter sentado à sua frente na sala de aula tem a idade compatível com a série frequentada.Recebeu, em casa, uma educação esmerada. Seus pais fazem questão de manter o diálogo franco e aberto, de responder aos questionamentos do jovem,de orientá-lo na solução de seus problemas.Seus pais são adultos maduros e responsáveis, honestos,fazem questão de valorizar em casa tudo o que se valoriza na escola,para que o jovem não sinta diferença entre o ambiente doméstico e o escolar.
Responsabilidade e compromisso viajam diariamente em sua mochila, de casa para escola e da escola para casa.Fala baixo,ouve os colegas,acata as orientações dos professores.Assiste todas as aulas,tem sempre uma pergunta pertinente sobre o assunto abordado,faz todas as lições.Estuda em casa,participa dos trabalhos em grupo e está sempre disponível para ajudar os que precisam.
Bom aluno!
O aluno real faz parte da atual família brasileira.Nem sempre tem o pai presente(muitas vezes está numa clínica de recuperação ou numa penitenciária).A mãe, se está empregada, tem subemprego e nunca está presente para orientá-lo em suas dúvidas.Essas ele resolve na rua com os colegas.A prioridade da mãe é a sobrevivência: sua e dos 4 ou 5 filhos - aluguel, alimentação, vestuário,transporte.Ele vai á escola porque é obrigado - sua mãe depende das bolsas-auxílio a que tem direito por ser aluno ou tem que se entender com o conselho-tutelar caso se configure que a criança/jovem está fora da escola.Ele só vai terminar o Ensino Fundamental e o Ensino Médio porque acha que com um certificado na mão alguns empregos serão mais tangíveis. O aluno real não se importa em "construir um conhecimento acadêmico". Ele nem sabe para que serve isso. Ele simplesmente vai á escola. Às vezes se afeiçoa ao professor,mas sempre gosta muito dos amigos.Ele se interessa por Biologia, Química, História.....Mas não pela Biologia que a professora deu na aula de ontem,não pela História ou Química que não dialogam com seu cotidiano de jovem da periferia " braba".
É claro que a escola ficaria imensamente feliz se contasse com 90% de alunos ideais.Então ela poderia continuar voltada para seu próprio umbigo,se preocupando com com o "conteúdo que precisa ser ensinado", com suas exigências pouco articuladas com a realidade socioafetiva de seus alunos.
O aluno "fraco"é o que mais precisa de um professor "forte",que tenha autoridade(não a imposta, mas a conquistada), que valorize a vivência do aluno. A escola precisa manter " um olho no peixe, outro no gato",ou seja, precisa manter um olho nas disciplinas e outro na vida. Precisa valorizar o passado e o futuro,sim. Mas não pode se esquecer do presente.Porque é no presente que o aluno real vive.
Não são os alunos ou os professores que estão desinteressados.É a sociedade que está desinteressada do que acontece aos seus jovens,pricipalmente dentro das escolas.
A escola precisa criar, urgentemente,possibilidades para os alunos reais,resgatar a cultura latente,produzir o desafio de criar conexões significativas para ESSE aluno.Se for necessário desmontar o modelo pedagógico vigente,que se desmonte.Mas vamos salvar nossos alunos reais porque os ideais serão salvos por si mesmos.
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