segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

SEQUÊNCIA DIDÁTICA

A SALA DE AULA COMO ESPAÇO DE VIVÊNCIA E APRENDIZAGEM
A sala de aula é o espaço de encontro entre alunos, professor(a) e conhecimento.
Nela, vínculos de amizade, cooperação e confiança se constroem e se consolidam, animando o processo de ensinar e aprender.
Vista dessa forma, a sala de aula é pulsante, viva e dinâmica. As vozes de cada aluno(a) e do(a) professor(a) podem ser ouvidas, ampliadas e aprimoradas, através da interação entre eles e deles com o conhecimento.
Vamos refletir sobre a sala de aula como espaço de vivência,experimentação e construção. Para isso, nos reportaremos aos protagonistas, que atuam como parceiros nesse espaço e vamos pensar sobre estratégias de organização da aula, que favoreçam a relação entre alunos, professores e conhecimento.
Começaremos analisando duas aulas:

Aula 1

Professora Clara

INTRODUÇÃO
A professora Clara chega na sala exatamente quando o sinal avisa que a aula vai começar. Encontra seus alunos e alunas sentados, um atrás do outro, já com os cadernos abertos, estojos e atenção a postos.
Ela os cumprimenta, vai para a lousa e escreve o título de uma notícia do jornal daquele dia: “Chuvas repentinas castigam a cidade”. Em seguida diz aos alunos que vai colocar o texto da notícia na lousa e pede que o copiem, com bastante cuidado, prestando especial atenção à ortografia. Os alunos prontamente começam a escrever. Passados alguns minutos, chegam atrasados três alunos. Eles se desculpam pelo atraso e dizem que ficaram muito tempo parados por causa da chuva que entupiu o trânsito na cidade.
A professora Clara pede para que entrem, não há problema porque ainda podem copiar a primeira parte do texto. A aula segue com os alunos terminando de registrar o texto e respondendo algumas perguntas feitas
pela professora.

Aula 2
Professora Neusa
No horário da aula, a professora Neusa chega, cumprimenta seus alunos e pede para que organizem as mesas e cadeiras em roda, pois vão começar a aula discutindo uma notícia que ela trouxe. Em primeiro
lugar, a professora verifica se estão todos ali. Uma aluna diz que algumas pessoas chegarão atrasadas por causa da chuva forte que caiu, mais uma vez, à tarde. Neusa, então, explica ao grupo que a notícia que trouxe é exatamente sobre as chuvas que têm castigado as pessoas da cidade. Ela começa por perguntar se entre os alunos, há alguém que tenha sofrido com a chuva. Vários alunos passam a dar seus depoimentos, falando sobre problemas com o trânsito e com as enchentes. A partir daí, a professora convida os alunos a pensar sobre as causas das enchentes: falam de lixo, entupimento de bueiros e canalização de rios. No final da aula, ela lê a notícia que trouxe e pede para que cada um escreva um pequeno texto comentando o que pode ser feito para diminuir o problema das enchentes.

As descrições acima nos permitem fazer uma série de observações importantes. Iniciemos por analisar a aula da professora Clara.
As notícias de jornal costumam ser bastante utilizadas nas classes . Sabemos que são textos que interessam aos alunos  porque tratam de situações reais, muitas das quais eles partilham e vivem em seu dia-a-dia. Além disso, poder ler o jornal, acompanhar os acontecimentos do bairro, da cidade, do Brasil e do mundo é
um desejo bastante comum dos alunos .
Na aula da professora Clara, a notícia foi usada como um texto para ser copiado e para os alunos responderem a algumas questões.
As notícias que circulam nos jornais impressos ou televisivos estão a serviço da informação, motivam comentários e suscitam discussões. Ou seja, não são produzidas para serem apenas copiadas ou utilizadas como pretexto para questionários escolares.
O tema da notícia certamente interessaria aos alunos. Lembremos que três alunos chegaram atrasados à aula, justamente por causa da chuva que acabara de cair sobre a cidade. No entanto, como o foco da aula planejada pela professora Clara era a escrita, mesmo que apenas uma cópia e o exercício de interpretação, mesmo que apenas dar respostas a questões sobre o texto, não foi possível, para ela, relacionar o tema da notícia com a experiência que alguns de seus alunos e alunas viveram naquela tarde, começo de noite.
Pensemos, agora, sobre a aula proposta pela professora Neusa. Ela também escolheu a notícia como texto a ser trabalhado na aula. No entanto, ele foi o motivador da conversa, das discussões e produções acontecidas naquela noite. Neusa convidou seus alunos a organizarem o espaço da sala de aula de
forma especial, uma roda, onde todos puderam se ver e discutir mais adequadamente. É o espaço anunciando e convidando a uma grande conversa.
Antes do texto, a professora deu voz a seus alunos, pedindo que contassem as experiências já vividas por eles, em relação ao tema: a chuva e suas conseqüências. Os alunos, então, expuseram suas histórias ao grupo, que passou a pensar sobre as causas dos danos sofridos com as chuvas.
Discutiram, ouviram a leitura da notícia trazida pela professora e, então, produziram um texto, com as suas idéias. Um texto que apontava ações, soluções e saídas possíveis para diminuir os danos que as chuvas podem causar.
A notícia lida não foi o foco da aula. Ela veio agregar informações ao conhecimento que os alunos já tinham sobre o tema. O texto que os alunos produziram ao final da aula em nada se assemelha a uma cópia. Ao contrário, nele os alunos expressaram e articularam suas idéias, propuseram mudanças.
O texto remetia ao que sabiam antes da aula pela experiência vivida e ao que aprenderam durante a aula pela experiência compartilhada e ampliada.
Nessa aula, alunos e professora percorreram juntos um caminho de construção e expressão de conhecimento. Eles, construindo conhecimentos, compartilhando experiências e saberes; ela dando-lhes voz e intervindo em seu modo de pensar, através de perguntas e informações.
Poderíamos dizer que na aula da professora Clara aconteceu um encontro apenas físico. A professora orientou o trabalho sem contar com a ação e a participação efetivas dos alunos, que atuaram de forma passiva, realizando o que fora pedido. Certamente, alguns deles saíram da aula sabendo um pouco
mais sobre o tema do texto. É possível que alguns outros tenham relacionado o texto copiado com a sua experiência cotidiana. Mas isso não se estende a todos, já que não foram convidados a pensar, falar e ouvir.
Ao contrário, na aula da professora Neusa podem ser vistos todos em roda.
Eles puderam pensar, falar, ouvir e produzir. Podemos afirmar, com segurança, que todo o grupo saiu da aula num patamar diferente de conhecimento.
A sala de aula, para a professora Neusa, pode ser vista como um espaço de vivência e de aprendizagem. Ela não é a vida cotidiana, mas não se fecha para a experiência vivida por cada aluno fora dela. Antes, apóia-se nessa experiência para fazer nascer novos conhecimentos e para gerar novas aprendizagens.
O aluno é, para essa professora, alguém que pensa, que tem o que dizer e é capaz de aprender. A sala de aula se configura, então, como lugar de voz, de produção. Podemos dizer, de co-produção, espaço de construção compartilhada de conhecimentos.
Ambas as aulas permitem que pensemos, então, nas marcas que caracterizam a sala de aula como espaço de vivência e aprendizagem.
Para definirmos estas marcas, importa que tracemos os princípios a partir dos quais vamos pensar.

fonte: http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/eja_caderno2.pdf

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