sábado, 17 de janeiro de 2009

JORNAL VIRTUAL PROFISSÃO MESTRE


JORNAL VIRTUAL PROFISSĂO MESTRE
Profissăo Mestre – Ano 7 Nº 100 – 16/01/2009

JV número 100! Parabéns para a gente!

Aprendizagem sobre o olhar da Psicanálise

Venho discutindo o tema “aprendizagem” já que trabalho com a formação de professores e suas dificuldades em lidar com o processo ensino-aprendizagem e principalmente com o chamado “fracasso escolar” que, muitas vezes, vem sendo usado como uma desculpa, uma forma de dar um “rótulo” para aquilo que não conseguimos nomear.

O interesse sobre o “fracasso escolar” continua me inquietando e me mobilizando a buscar novas perguntas no campo da psicanálise: quem é este meu aluno que não aprende? Como refletir sobre este tema em tempos de mal-estar na educação? Como olhar a educação para além do que estamos vendo? O que poderia ser, para Freud, o processo de aprendizagem? Em outras palavras, o que poderia tornar o conhecimento possível para uma criança?

Para Freud, a paixão pelo saber origina-se da curiosidade infantil sobre sua origem. “Qual é a minha origem em relação ao desejo de vocês?” “Por que me puseram no mundo, para atender a quais expectativas e esperando que eu me torne o quê?” O momento nos remete a fazermos uma auto-análise de quem nós, educadores, somos.

As crianças que vão à escola para aprender a ler e a escrever não parecem denunciar nenhuma dessas preocupações. O chamado “fracasso escolar” estaria ligado a estes porquês?

Aprender é aprender com alguém que será colocado em uma posição de suposto saber. Freud (citado por Kupfer, em Freud e a Educação) nos mostrava: “No decorrer do período de latência, são os professores e geralmente as pessoas que têm a tarefa de educar, que tomarão para a criança o lugar dos pais, do pai em particular, e que herdarão os sentimentos que a criança dirigia a esse último na ocasião do Complexo de Édipo.”

A ênfase freudiana não está concentrada nos conteúdos a serem transmitidos do professor para o aluno, mas no campo que se estabelece entre professor/aluno – transferência é nome dado pela psicanálise a este campo.

A transferência não se dirige à pessoa, mas ao “lugar” que ela ocupa ou ao que ela representa no discurso. Só assim o professor pode tornar-se a figura a quem serão endereçados os interesses dos alunos. A transferência se produz quando o desejo de saber do aluno se liga à pessoa do professor (com seu desejo de ensinar).

O professor precisa despertar o desejo do saber no seu aluno e esse tem sua base na infância. Para que isso aconteça, eu sugiro que o professor se pergunte: “É meu desejo continuar sendo um educador?”

Acredito que uma educação só se torna possível, precisamente, à medida que o adulto revisita a criança que foi um dia para outros. O que se busca quando se quer aprender algo? Só a partir desta pergunta pode-se refletir sobre o que é o processo de ensino-aprendizagem, pois a esse processo depende a razão que motiva a busca de conhecimento. A busca do saber de si mesmo, para que eu possa saber sobre o mundo.

Se existe fracasso no aprender, poderíamos dizer que há fracasso também no ensinar? Estaria o “fracasso escolar” ligado ao medo de perder algo de que a criança não sabe nomear?

Baseando-me na no olhar da Psicanálise, acredito que nosso aluno possa aprender, desde que ele se sinta livre para ser o sujeito que é e não aquele que querem que ele seja.

“Somente alguém que possa sondar as mentes das crianças será capaz de educá-las, e nós, pessoas adultas, não podemos entender as crianças porque não mais entendemos a nossa própria infância. Nossa amnésia infantil prova que nos tornamos estranhos a nossa infância” ( Freud, 1900).

Para Freud, educar era impossível! Por isso estou buscando pesquisar o que está acontecendo entre o mundo e a educação, entre o desejo e o saber; por isso estou construindo um caminho onde educação e Psicanálise possam dialogar ou ao menos se escutar e se olhar neste descompasso em que nos encontramos.

Jane Patrícia Haddad – Pedagoga, psicopedagoga, psicanalista. Consultora educacional, palestrante e escritora. www.janehaddad.com.br

Bom final de semana.


Priscila Conte
priscila.conte@humanaeditorial.com.br

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